Por: Dorenice do Nascimento Souza
Estamira é a protagonista de um filme
documentário brasileiro dirigido pelo cineasta Marcos Prado, que retrata a vida de uma senhora de 63 anos que
após vivenciar muitos sofrimentos desenvolve distúrbios mentais, e passa a
sofrer de Esquizofrenia um transtorno mental psicótico severo, uma patologia
que altera a personalidade total do indivíduo.
A Esquizofrenia se manifesta em crises
agudas com sintomatologia intensa, intercaladas com períodos de remissão,
quando há um abrandamento de sintomas, restando alguns deles em menor
intensidade. Em alguns casos ocorre
interesse demasiado por temas exóticos, místicos, religiosos, astronômicos ou
filosóficos, que passam a dominar o cotidiano da pessoa.
O paciente Esquizofrênico perde o
sentido da realidade e a capacidade de distinguir entre a experiência real da
imaginária. Isso fica evidente nas cenas em que Estamira demonstra lucidez ao
fazer comparações filosóficas entre o material e o imaterial, e os delírios
quando demonstra revolta contra o Deus, a quem acusa de permitir todo o
sofrimento em que viveu, respectivamente.
O documentário revela que Estamira sofrera
abuso sexual pelo seu avô desde a sua infância, no início da sua adolescência
foi obrigada a se prostituir e a viver em um prostíbulo. Estamira casou-se duas
vezes, sendo infeliz devido à infidelidade do cônjuge o que culminou no
fracasso da sua vida afetiva com o fim do seu casamento.
Estamira começou a apresentar delírios e alucinações, e passou a morar próxima a um aterro sanitário de onde tirava seu sustento aproveitando alimentos que são descarregados ali diariamente. Tem três filhos fruto do seu casamento mas só criou dois sendo a caçula criada no seio de outra família por decisão do seu filho mais velho.
Sua filha mais velha declara que prefere
vê sua mãe vivendo no lixão e livre, do que internada em um hospício e infeliz,
e que observou que a convivência social de sua mãe no lixão melhorou a saúde
mental da mesma. Sua filha caçula declara que sente saudades da mãe, foi criada
por outra família e traz consigo este ressentimento. Alterna entre a vontade de
estar próxima e do medo que sente da mãe nos quadros de crise aguda.
Em sua forma de tentar explicar a
desigualdade social, Estamira, Relaciona a religião ao conformismo, um
mecanismo utilizado para controle das classes social menos favorecida. Demonstra revolta contra o Deus a
quem descarrega todo o seu ódio através de impropérios por julgar que ele permitiu
que fosse estuprada. Isso gera conflito com seu filho evangélico, que julga que
a mãe não está doente, mas, possuída por espíritos demoníacos.
Esta doença é marcada especialmente
pela dificuldade que o indivíduo apresenta para criar e manter laços sociais,
no relacionamento com as pessoas e com o restante do mundo. O Esquizofrênico
apresenta dificuldade para lidar com momentos de conflito, com perdas e com
mudanças.
Estamira também critica a forma pela
qual é medicada, quando chama aos médicos de “copiadores” pelo fato de
queixar-se nas consultas o mal estar que sente pelos efeitos colaterais causados
pelo medicamento em uso, e receber sempre a mesma prescrição medicamentosa.
Estamira vive momentos de delírios
como uma fuga da realidade a qual não suportou, e para compensar desenvolveu
distúrbios mentais para tentar superar os traumas psicológicos vividos, pelos
maus tratos sofridos, pelos estupros que fora vítima, e principalmente pelo
remorso por ter internando sua própria mãe que era doente mental em um hospício
e permitir que continuasse lá mesmo sabendo que ela era maltratada.