domingo, janeiro 22, 2012

RESENHA DO FILME “ESTAMIRA"



Por: Dorenice do Nascimento Souza

Estamira é a protagonista de um filme documentário brasileiro dirigido pelo cineasta Marcos Prado, que retrata a vida de uma senhora de 63 anos que após vivenciar muitos sofrimentos desenvolve distúrbios mentais, e passa a sofrer de Esquizofrenia um transtorno mental psicótico severo, uma patologia que altera a personalidade total do indivíduo.

A Esquizofrenia se manifesta em crises agudas com sintomatologia intensa, intercaladas com períodos de remissão, quando há um abrandamento de sintomas, restando alguns deles em menor intensidade.  Em alguns casos ocorre interesse demasiado por temas exóticos, místicos, religiosos, astronômicos ou filosóficos, que passam a dominar o cotidiano da pessoa.

O paciente Esquizofrênico perde o sentido da realidade e a capacidade de distinguir entre a experiência real da imaginária. Isso fica evidente nas cenas em que Estamira demonstra lucidez ao fazer comparações filosóficas entre o material e o imaterial, e os delírios quando demonstra revolta contra o Deus, a quem acusa de permitir todo o sofrimento em que viveu, respectivamente.

O documentário revela que Estamira sofrera abuso sexual pelo seu avô desde a sua infância, no início da sua adolescência foi obrigada a se prostituir e a viver em um prostíbulo. Estamira casou-se duas vezes, sendo infeliz devido à infidelidade do cônjuge o que culminou no fracasso da sua vida afetiva com o fim do seu casamento.



Estamira começou a apresentar delírios e alucinações, e passou a morar próxima a um aterro sanitário de onde tirava seu sustento aproveitando alimentos que são descarregados ali diariamente. Tem três filhos fruto do seu casamento mas só criou dois sendo a caçula criada no seio de outra família por decisão do seu filho mais velho.
Sua filha mais velha declara que prefere vê sua mãe vivendo no lixão e livre, do que internada em um hospício e infeliz, e que observou que a convivência social de sua mãe no lixão melhorou a saúde mental da mesma. Sua filha caçula declara que sente saudades da mãe, foi criada por outra família e traz consigo este ressentimento. Alterna entre a vontade de estar próxima e do medo que sente da mãe nos quadros de crise aguda.

Em sua forma de tentar explicar a desigualdade social, Estamira, Relaciona a religião ao conformismo, um mecanismo utilizado para controle das classes social menos favorecida. Demonstra revolta contra o Deus a quem descarrega todo o seu ódio através de impropérios por julgar que ele permitiu que fosse estuprada. Isso gera conflito com seu filho evangélico, que julga que a mãe não está doente, mas, possuída por espíritos demoníacos.

Esta doença é marcada especialmente pela dificuldade que o indivíduo apresenta para criar e manter laços sociais, no relacionamento com as pessoas e com o restante do mundo. O Esquizofrênico apresenta dificuldade para lidar com momentos de conflito, com perdas e com mudanças.

Estamira também critica a forma pela qual é medicada, quando chama aos médicos de “copiadores” pelo fato de queixar-se nas consultas o mal estar que sente pelos efeitos colaterais causados pelo medicamento em uso, e receber sempre a mesma prescrição medicamentosa.

Estamira vive momentos de delírios como uma fuga da realidade a qual não suportou, e para compensar desenvolveu distúrbios mentais para tentar superar os traumas psicológicos vividos, pelos maus tratos sofridos, pelos estupros que fora vítima, e principalmente pelo remorso por ter internando sua própria mãe que era doente mental em um hospício e permitir que continuasse lá mesmo sabendo que ela era maltratada.

domingo, janeiro 08, 2012

RESENHA DO FILME "MR. JONES"

Por: Dorenice do Nascimento Souza

Mr. Jones título do filme é também o personagem principal da trama interpretado pelo ator Richard Gere, tem como foco principal a abordagem do transtorno afetivo bipolar, transtorno conhecido anteriormente como Psicose Maníaca Depressiva. O Transtorno Afetivo Bipolar recebeu essa denominação por ser considerada uma perturbação afetiva, relacionada ao humor ou afeto não apresentando necessariamente transtornos psicóticos.

Mr. Jones é um homem de 36 anos, charmoso, fascinante e envolvente que ao longo do filme alterna em quadros de euforia demasiada, com quadros de depressão e tristeza. Esta alternância euforia-depressão é o que caracteriza esta patologia. Ele vive em um ritmo acelerado, e age de forma extravagante nos períodos de hiperexcitabilidade, alternando com humor depressivo.

Na fase maníaca, o paciente portador de Transtorno Afetivo Bipolar apresenta sinais e sintomas de resistência ao cansaço físico, aceleração do curso de pensamento, fuga de idéias, hipersexualidade, e irritabilidade. Já na fase depressiva os sinais e sintomas são humor depressivo, alterações de apetite e/ou do peso, e do sono, dificuldades de concentração e pensamentos de cunho negativo, incapacidade de sentir alegria ou prazer, redução da energia, agitação psicomotora ou lentificação, perda de interesse pelas atividades que antes lhe causavam prazer, cansam-se a toa e permanecem na cama por várias horas.

Os reflexos mais típicos do humor depressivo são os sintomas de angústia, tristeza, vazio, desesperança e desânimo. Mais nem sempre a tristeza clássica está presente no episódio depressivo, de acordo com a personalidade o paciente pode não apresentar sentimento de tristeza e concentrar suas queixas em somatizações, em dores e outras queixas físicas, tais como cefaléia, dor de estômago, dor no peito, e tonturas.

A ausência do medo, também é um dos sinais deste transtorno, e fica evidente no filme quando Mr. Jones em uma crise de euforia sobe no telhado de uma construção onde trabalhava sem utilizar E.P.I, anda pelo telhado olha para o céu contempla a passagem de um avião, abre os braços e acha que também pode voar, sem demonstrar o mínimo de consciência do perigo de um acidente fatal, tendo como conseqüência sua internação em um hospital psiquiátrico.

O risco para os portadores desse transtorno é preocupante, pois o senso de perigo fica comprometido e isso faz com que se envolvam em atividades que comprometem a sua integridade física, o que eleva a mortalidade em decorrência dessas demonstrações de coragem, ou por consolidação das idéias suicidas.

A extravagância um dos sinais de mania também fica nítida na cena em que Mr. Jones encerra sua conta bancária, leva a atendente do banco como sua acompanhante e passa a se comportar como um milionário excêntrico. Sua euforia é tão intensa que ele assistindo a um espetáculo sai da platéia, sobe no palco interrompendo o maestro, para reger uma orquestra sinfônica, evidenciando um dos sintomas desse transtorno, como a elevação da auto-estima, sentimentos de grandiosidade, e de habilidades especiais, se considerando uma celebridade. O que resultou novamente em sua internação em um hospital psiquiátrico.

Muitas vezes o diagnóstico desse transtorno é incorreto, Mr. Jones foi internado com o diagnostico de Esquizofrenia Paranóide, por apresentar pensamento delirante julgando que possuía a capacidade de voar. Designada para acompanhar o caso e o tratamento de Mr. Jones, a Psiquiátrica Dra. Elizabeth “Libbie” Bowen, interpretada pela Atriz Lena Olin, ao analisar o histórico do paciente logo percebe se tratar de Transtorno Afetivo Bipolar.

Durante o tratamento de Mr. Jones, a Dra. Elisabeth “Libbie” Bowen, tem um envolvimento amoroso com seu paciente. Por não ser possível continuar como sua terapeuta, a Dra. Elisabeth tenta transferi-lo aos cuidados de outro psiquiátra, resultando na transferência do paciente para outra unidade psiquiátrica e o pedido de demissão da Dra Libbie em razão da quebra da ética profissional.

Durante o processo de transferência Mr. Jones tenta falar com a Dra Libbie, sem êxito. Sentindo se traído passa a partir deste momento a considerá-la como uma pessoa falecida, comportamento já esperado pela doutora.

Geralmente em diversos momentos da vida é natural experimentar-mos uma grande variedade de sentimentos com maior ou menor intensidade. É normal a pessoa ficar alegre com uma promoção no emprego, com uma conquista amorosa, e outras situações agradáveis. Uma pessoa normal também experimenta situações de tristeza e sofrimento depois de um rompimento amoroso, com doença ou morte de uma pessoa querida, ou outras dificuldades. Em situações normais o estado de humor ou de ânimo deve variar ao sabor dos acontecimentos da vida. Pessoas que não sabem lidar com perdas têm problemas de personalidade – Bipolaridade. Nas alterações da afetividade esse estado pode ser chamado de "egoísmo afetivo".

Mr. Jones permanece internado em outra unidade psiquiátrica e ao receber alta médica dirigi-se a casa de um velho amigo para resgatar suas ferramentas de trabalho apresentando um comportamento arredio vai embora sem despedir-se o que faz com que seu amigo entre em contato com a Dra. Libbie, que sai desesperada ao encontro de Mr. Jones impedindo que cometesse o suicídio ao assumir seu amor por ele.

O transtorno bipolar é uma doença relacionada ao humor ou afeto ocorre geralmente na faixa etária entre 20 e 40 anos, e perdura por toda vida. Geralmente os episódios depressivos aparecem primeiro, para muito tempo depois ocorrer o aparecimento do primeiro episódio de mania, podendo cursar com sintomas psicóticos, o que pode confundir o diagnóstico com síndrome psicótica.

Tanto na fase maníaca quanto na fase depressiva o comportamento do bipolar pode trazer conseqüências danosas para a segurança do paciente, e quando não tratado apresenta risco elevado de cometer suicídio.